Congresso do Diálogo Inter-religioso coloca a tónica no “cuidar do outro”
“Cuidar do Outro” foi o tema de partida para a segunda edição do Congresso do Diálogo Inter-religioso, promovida no dia 3 de outubro, pelo Alto Comissariado para as Migrações, em parceria com o Grupo de Trabalho para o Diálogo Inter-religioso e a Comissão da Liberdade Religiosa.
O evento, que decorreu no auditório Cardeal Medeiros, na Universidade Católica Portuguesa, reuniu a presença da Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, do Alto-comissário para as Migrações, Pedro Calado e do Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, José Vera Jardim.
Falando da infância passada em Moçambique, durante a sessão de abertura, a Ministra da Presidência recordou o tempo em que frequentou uma escola católica onde conviviam, com mútuo respeito, três religiões: Hindu, Católica e Islâmica. “A vida foi-nos mostrando que nem sempre é assim. A questão do diálogo intercultural é hoje umas das mais disruptivas e à qual temos de prestar mais atenção. (…) Aquilo que na minha infância parecia adquirido é hoje um ‘novo presente’ que está para ficar. Vale a pena prevenir e a prevenção faz-se pelo diálogo e pela educação para a tolerância”, referiu a governante.
Para José Vera Jardim, Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, “a presença de comunidades imigrantes tem levantado, em muitos países, um pouco por todo o mundo, movimentos e iniciativas do tipo identitário geradoras de mau estar, convulsão social e emergência de políticas nacionalistas, xenófobas, tribalistas e negadoras do respeito mútuo”, alertando que “a religião é apenas um dos elementos da identidade da pessoa, mas muitas vezes tem sido transformada ou eleita em elemento preponderante, senão mesmo único, dessa identidade”.
A encerrar os trabalhos, Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, reforçou a ideia de que “hoje em dia não conseguimos compreender o Mundo ou as sociedades na sua diversidade, nem construir espaços de paz e de coesão social, sem conhecer e envolver as religiões e as suas dimensões múltiplas e culturais. A religião não define a pessoa que a professa, mas é uma componente humana relevante para os/as crentes entre as várias outras esferas da sua vida. Como dimensão fundamental, ela deve ser refletiva, trabalha e visibilizada”, rematou.
A IMPORTÂNCIA DE “CUIDAR DO OUTRO”
Conselheiro do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, Walter Osswald, teve a seu cargo a conferência que deu por tema a este congresso. “É sempre um choque encontrarmo-nos com algo a que não estamos habituados, representa sempre um desafio, e, dessa maneira, parece-me que pode haver sempre alguma surpresa e alguma rejeição inicial”, mencionou, apontando para o confronto com diferentes culturas, religiões e costumes. “O que é preciso é ter o espírito aberto, não permanecer nessa rejeição inicial e pensar que se isto é diferente será interessante, será bom e tem de se analisar aquilo que nos é oferecido”, salientou.
Aliando organizações governamentais e da sociedade civil, comunidade científica e representantes das diferentes comunidades religiosas do Grupo de Trabalho para o Diálogo Inter-religioso, este congresso debateu três tópicos centrais, com enfoque no cuidado do outro. Em discussão estiveram temas como o direito à profissão de diferentes crenças e religiões em contextos de acesso e assistência hospitalar; a responsabilidade social nas ONG e sociedade civil, por via da intervenção e apoio social à comunidade; e ainda os contributos da educação formal e não formal para a aceitação e convívio entre diferentes comunidades religiosas.
DIA NACIONAL DA LIBERDADE RELIGIOSA E DO DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Um de fevereiro é a data que as três entidades organizadoras deste congresso pretendem ver definida no calendário para assinalar o Dia Nacional da Liberdade Religiosa e do Diálogo Inter-religioso. O texto que sustenta esta proposta, que em breve será apresentada à Assembleia da República, foi lido, neste II Congresso, pela primeira vez em público pelo Alto-comissário para as Migrações, Pedro Calado, e pelo Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, José Vera Jardim.
“Esta é uma proposta que parte do Grupo de Trabalho para o Diálogo Inter-religioso, à qual demos um primeiro impulso, em conjunto com a Comissão”, acrescentou Pedro Calado. “Este dia [1 de fevereiro] parece-nos o mais apropriado, pois marca também o arranque daquela que já é a Inter Faith Week, proposta pelas Nações Unidas, e que, no espaço nacional, poderá ser uma data simbólica e adequada a este propósito que não é apenas nosso, é de todos nós”, concluiu.